quinta-feira, 23 de setembro de 2010

“Sacudindo a poeira”

Como tudo na vida, de vez em quando o nosso computador também precisa de uma revisão. Uma faxina, para tirar o desnecessário. Mas o bom da arrumação é que você encontra através dela coisas necessárias, que não estavam perdidas, mas que ficaram longe da lembrança, por assim dizer. Hoje foi isso o que aconteceu.

No meu segundo período da faculdade, num trabalho feito em grupo, com demais integrantes do Socializando o Direito, fizemos entrevistas com pessoas comuns, professores e também juristas. A finalidade era descobrir qual seria afinal a opinião deles sobre o funcionamento da justiça brasileira, e sobre os profissionais que fazem o direito. Como se vê, perguntamos a eles o que eles acham sobre o universo que nós resolvemos abraçar como carreira. As entrevistas não puderam ser apresentadas, e tudo acabou meio esquecido.

Mas hoje trago para vocês o que naqueles dias nós ouvimos. Porque nós continuamos no curso de Direito, e ainda assim, os fatos mencionados há um tempo parecem não ter mudado tanto assim.

Possivelmente, uma das melhores e mais sinceras opiniões que conseguimos, foi a de uma senhora, meia-idade, classe média baixa. Eis as perguntas, e, abaixo, as respostas:

A senhora confia na justiça brasileira?

Não. Não porque a justiça brasileira só favorece os ricos. E vai demorar muito para a justiça brasileira fazer algo para o Brasil.

O que a senhora acha dos profissionais que trabalham na área do Direito?

Os profissionais que trabalham com isso são corruptos. Os juízes são corruptos também. Porque um advogado, ele tem que ser pela lei, e muitos são comprados. E eles defendem os hipócritas, que eu acho que não deveria.

Longe da lente da câmera, nós ainda conversamos com ela um pouco. Confesso que para nós, ela refletiu somente o que a maioria do povo brasileiro pensa. Ela falou por uma parcela bem grande da população. Sabendo que nós nos tornaríamos futuros juristas, ela olhou pra nós e perguntou por que nós tínhamos escolhido trabalhar com isso, sabendo que estava tudo desse jeito. O que nós queríamos da vida, afinal? Ganhar dinheiro a qualquer custo?

Lembro que respondemos a ela que, na verdade, é porque talvez estivesse em nossas mãos melhorar tudo isso. E que nós estávamos estudando para sermos juristas porque acreditávamos que de algum modo poderíamos contribuir, fazer algum bem para a sociedade. Dissemos que acreditávamos realmente que uma mudança era possível.

Você, que está lendo, o que acha? Você, que inevitavelmente convive com esse mundo, o que acha? Você, que lê as notícias, vê o que acontece, ou, às vezes, o que não acontece, o que acha?

Difícil, não é? Porque é a sociedade em que nós vivemos, e, em análise mais atenta, que nós mesmos construímos. Desde lá, no segundo período de Direito, mal tendo noção ainda do que é o curso, e conhecendo a realidade da área ainda pelas beiradas, eu digo agora que nem tanta coisa assim mudou, é verdade.

Mas hoje, o que eu percebo é que nós não devemos cair no equívoco da generalização. “Ah, todo mundo é corrupto!” ou “Ah, todo mundo é honesto!”. Existem sempre as duas faces. Imagine agora um martelo. Ele pode ser uma ferramenta, muito útil. Mas pode também ser uma arma. Depende de quem manuseia.

O que eu, honestamente, espero é não perder a esperança de quando ainda estava entrando na faculdade. A de que, sim, nós ainda podemos mudar alguma coisa. Porque, como tudo na vida, para mudar as coisas, às vezes só depende de nós fazer uma revisão, dar uma faxinada. Tirando a poeira, a gente respira mais aliviado. E tirando os lugares reservados para os objetos inúteis, há mais espaço para o novo.



Para você, que talvez já não carrega a mesma fé, lembro que cabe a cada um de nós fazer parte da “rapaziada” que o mestre Gonzaguinha menciona na música “E vamos à luta”:



“Eu acredito é na rapaziada
Que segue em frente e segura o rojão
Eu ponho fé é na fé da moçada
Que não foge da fera e enfrenta o leão

Eu vou à luta com essa juventude
Que não corre da raia a troco de nada

Eu vou no bloco dessa mocidade
Que não tá na saudade e constrói
A manhã desejada

Aquele que sabe que é negro o coro da gente
E segura a batida da vida o ano inteiro
Aquele que sabe o sufoco de um jogo tão duro
E apesar dos pesares ainda se orgulha de ser brasileiro (...)”


Eriana Rebouças

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